Foram meses de recuperação e muita luta no período em que esteve internado em um hospital da Grande São Paulo, logo após ter tentado tirar a vida se cortando, com um pedaço de vidro, na região do pescoço, em 2009. Seu histórico não andava nada bem. Rafael Ilha, que chegou a vender um milhão de discos nos anos 1980 com o grupo Polegar, ficou conhecido por seu envolvimento com drogas e pelas confusões com a justiça.
Chegou a perder o brilho e o carinho de seu público. Com o episódio do caco de vidro, ninguém mais acreditava em uma reviravolta na vida de Rafael. Na última terça-feira (21), o ex-Polegar foi visto na coletiva de imprensa de Hebe Camargo. Sem acanho, se apresentou e fez duas perguntas para a apresentadora, surpreendendo os jornalistas que estavam por lá. Era Rafael retomando sua carreira. Segundo declarou, foi o trabalho que o ajudou a se manter na linha.
“Estou feliz como nunca estive antes. Minha vida agora está boa, está tranquila. Ainda sou reconhecido quando saio para fazer matérias e percebo que é muito tranquilo. Sinto que o público me respeita ainda”, declarou.
A oportunidade de trabalhar como repórter não surgiu precocemente. Rafael conta que ainda estava internado na clínica quando recebeu uma proposta – não somente profissional – mas também uma chance para dar uma guinada em sua vida. A princípio, iria trabalhar como produtor da Rede TV!, e foi assim que começou, a convite de uma grande amiga.
“Eu tava enfrentando uma depressão forte. Naquela época estava internado e, Sônia Abraão, que é minha amiga há pelo menos 25 anos, foi me visitar. Conversamos muito, e confessei para ela que precisava sair daquele hospital com um trabalho na mão, senão seria muito difícil me recuperar”, contou. “Sônia, então, decidiu me dar uma força, e me chamou para trabalhar na produção de seu programa, o ‘A Tarde É Sua'”.
Rafael entrou na sede da Rede TV! no dia primeiro de fevereiro. No começo, causou estranheza, mas logo os colegas de profissão aceitaram o novo integrante, ao notarem a vontade que ele tinha em aprender e se adaptar na nova função. Na sequência, há cerca de um mês e meio, recebeu a proposta de ser repórter de externas para o programa, e começou a sair para cobrir pautas. Ele recorda que sua primeira matéria foi com o grupo Parangolé, no auge do sucesso do hit “Rebolation”.
“Nunca cogitei fazer matérias externas. Já tive algumas experiências anteriormente, mas era tão esporádico. Agora, que estou fazendo isso sempre, descobri que adoro! Tenho muito que aprender ainda, claro. Mas sou bem auto-crítico, toda matéria minha eu assisto, analiso, fico o dia todo pentelhando o pessoal da edição [risos]”, disse.
A carreira musical, no entanto, ficará um pouco encostada enquanto Rafael mergulha de cabeça na trajetória de repórter de rua. Se tivesse que voltar para os palcos, o ex-Polegar embarcaria em um projeto diferente: “Caso isso me ocorresse, eu faria um trabalho gospel. Mas, acho que essa fase musical já passou para mim. Na minha cabeça, a música já passou”.
Voltar a trabalhar parece ter organizado pendências na vida de Rafael. Após receber alta da clínica, começou a namorar e planejar projetos para 2011.
“Estou noivo agora. A única coisa que posso dizer é que ela se chama Juliana, não vou falar mais nada [risos]. Ela é sobrinha do meu médico, e nos conhecemos assim, bem tranquilamente. Estou feliz, sabe? Amo Juliana e ela é uma pessoa que está cuidando de mim, zelando pelo bem”, revelou.
Casamento à vista também deu ânimo para Rafael, que quer contar sua história – “aquela que ninguém conhece”, definiu – em dois projetos programados para o ano que vem. “Vou lançar um filme e um livro sobre minha vida. Quero contar minha história real; minha experiência com as drogas e a forma com que dei a volta por cima. Enfim, várias coisas que passei e que o público não sabe”, afirmou.
Tanto o livro quanto o filme sairão juntos, em data ainda a ser definida. Para colocar no papel sua história, Rafael ficou meses passeando com um gravadorzinho. Cada detalhe que recordava de sua história, registrava no aparelho. O material, posteriormente, foi entregue para os idealizadores do projeto, com produção de Sônia Abraão, aquela que viu em Rafael uma nova chance de fazê-lo brilhar.
Para fechar a conversa com Rafael, o tema foi o personagem Danilo, de “Passione”, vivido por Cauã Reymond, que tem enfrentado problemas com drogas na trama de Silvio de Abreu. Para Rafael, o comportamento de Danilo é pura ficção.
“Irreal para quem vivenciou esse tipo de situação. Faltou mais estudo da parte da produção. Achei o episódio que ele foi internado um ‘saquinho’ de assistir. Um rapaz forte como Cauã é levado à força por um médico e dois velhinhos para a internação. Não convence uma pessoa que já passou por internação forçada”, disse.
“Deveria mostrar o outro lado. Um cara que é viciado em crack vende carro, vende casa, vende tudo para poder comprar drogas. Como que o personagem sai por aí andando de carrão até a boca? Se fosse mesmo um viciado, teria vendido aquele carro faz tempo [risos]”, contou.
Rafael acredita que as ficções deveriam usar temas polêmicos como esse para trazer a realidade para quem está assistindo. Como exemplo, ele citou “Bicho de Sete Cabeças” a exemplo de boa representação. Na trama, o personagem de Rodrigo Santoro é internado em um hospício, depois que seus pais o flagram com maconha.
“Aquele mostra a realidade. O lado da psiquiatria mesmo”, pontuou.
Fonte: MSN