A candidata do PT, Dilma Rousseff, venceu a disputa pela Presidência da República, sendo eleita a primeira mulher presidente do Brasil. A petista derrotou o adversário José Serra (PSDB) no segundo turno das eleições, neste domingo (31), de acordo com os dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Com 93% das seções apuradas, Dilma obteve 55,49% dos votos, o que representa mais de 52,5 milhões de eleitores. Já Serra recebeu os votos de 44,41% dos eleitores, o que representa aproximadamente 41,9 milhões de votos.
Aos 62 anos, a mineira chega à Presidência após ser escolhida por Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo; isso depois de ter enfrentado a ditadura militar, comandado o principal ministério do governo Lula (a Casa Civil); vencido um câncer no sistema linfático e se tornado avó pela primeira vez, ainda no primeiro turno das eleições.
Até então desconhecida pelo eleitorado, pois nunca havia disputado uma eleição, Dilma passou a liderar a corrida pela sucessão presidencial no final do primeiro semestre deste ano, sendo beneficiada pela aprovação recorde do governo atual. Após oito anos na Presidência, Lula deixa o governo no fim do ano com índices de aprovação superiores a 80%.
Disputa
Antes de sair vitoriosa das urnas, Dilma enfrentou uma das campanhas mais agressivas da história. Se, no primeiro turno, o debate de propostas já havia sido sobreposto por discussões eleitorais, no segundo, os ânimos ficaram mais acirrados.
Os boatos de que a candidata do PT era favorável ao aborto, difundidos na internet e alimentados em cerimônias religiosas, marcaram a reta final da eleição, mas foram desmentidos pela petista. A discussão, porém, gerou uma série de troca de acusações entre Serra e Dilma, que atribuiu os rumores à tentativa do tucano de alimentar a divisão religiosa no Brasil.
Além da discussão em torno de temas polêmicos, a disputa pela Presidência foi marcada pelo surgimento de escândalos. Em um dos casos, Serra foi surpreendido pela denúncia de que o engenheiro Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, teria fugido com R$ 4 milhões da campanha tucana. O caso foi chamado de factoide por Serra e negado pelo engenheiro.
Em outro momento da campanha, imperou a troca de acusações em torno dos dossiês contra Serra supostamente montados por integrantes da campanha petista – informação sempre negada pelo PT, que passou a ser investigada pela Polícia Federal. Um dos envolvidos no esquema, o jornalista Amaury Junior, disse que decidiu investigar os tucanos, em 2008, após saber que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, também era alvo de uma investigação clandestina. Na época, Aécio disputava com Serra a indicação do partido para concorrer à Presidência.
A saída da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, após suspeitas de tráfico de influência, também inflou os ataques do tucano contra a campanha de Dilma que, por sua vez, defendeu a investigação imediata do caso.
Na última semana da campanha, uma nova denúncia atingiu o governo de São Paulo, deixado por Serra em abril. Desta vez, o jornal Folha de S.Paulo revelou que os resultados de uma licitação para a construção de lotes da linha lilás do metrô, que passa pela zona sul da capital paulista, vazaram seis meses antes do anúncio oficial. Após a denúncia, o atual governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), ordenou a paralisação do processo de licitação. Serra, que era o governador na época em que a obra foi licitada, defendeu a investigação de um possível acordo entre as construtoras.
Apesar da disputa acirrada e agressiva, Dilma chega ao Palácio do Planalto com ampla maioria no Senado e na Câmara Federal, e ainda tendo a maioria dos Estados governados por aliados. Ela, porém, terá pelo menos um grande desafio para enfrentar nos próximos quatro anos: a realização das reformas política e fiscal.