FAMOSIDADES

RIO DE JANEIRO – “Escrito nas Estrelas” chegou ao fim na sexta-feira (24). A novela de Elizabeth Jhin, que terá o capítulo final reprisado neste sábado (25), é apenas mais um exemplo de obra ficcional que traz a temática espírita como carro-chefe. A indústria cultural, tanto da TV quanto do cinema, tem aproveitado da expansão do espiritismo usando o tema em diversas produções.
Se você tem ou já teve a impressão de ouvir falar muitas vezes sobre isso ultimamente, saiba que não é somente mera coincidência. Pode-se dizer até que há um levante espírita em curso no entretenimento do nosso país. Só para se ter uma ideia, o Brasil, de acordo com dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem 2,3 milhões de pessoas que se declaram espíritas ou simpatizantes do segmento. Os adeptos, inclusive, questionam esses número, alegando que são menores do que a realidade.
E se hoje o país é considerado uma das maiores potências espíritas do mundo, grande parte dos méritos é, sem dúvida, atribuída ao mineiro Chico Xavier, considerado o maior médium desde Allan Kardec, tido como o “fundador“ da crença. Há quem diga, inclusive, que Chico teria sido a reencarnação de Kardec. Ele, porém, nunca negou, mas também nunca afirmou nada.
Falar da vida após a morte, tema que já inspirou as novelas “A Viagem” (1994), “Anjo de Mim” (1996), “Alma Gêmea” (2005), “O Profeta” (2006) e agora, a mais recente “Escrito nas Estrelas”, voltou com força total em 2010. Abordar o assunto pode fornecer um certo alívio à principal angústia humana, que é a da morte, sugerindo que a vida pode não terminar com a morte fisica, da matéria.
Em “Escrito nas Estrelas”, por exemplo, o espírito do personagem vivido pelo jovem ator Jayme Matarazzo morreu no primeiro capítulo, mas circulou ao longo de toda a trama. Para Pedro Vasconcelos, um dos diretores da novela das 18 horas, trabalhar com a espiritualidade sempre será instigante para o público justamente pelas perguntas sem respostas.
“O povo brasileiro é, sem dúvida, muito religioso e, por isso, ele gosta de ver histórias bem escritas e bem dirigidas sobre o tema. Sem falar que tudo que está relacionado com vida após a morte parece que desperta mais interessa, de fato, a todos nós. Há uma curiosidade natural já do ser humano em saber o que rola do lado de lá”, refletiu, em entrevista ao Famosidades.
Mesmo sendo católica, a autora Elizabeth Jhin mostrou ao público um universo criado a partir de elementos espíritas. Ela afirmou acreditar na existência de um outro plano. “Estou apaixonada pela busca de entender, seja em qualquer religião, essa transcendência que há entre os mundos”, confessou a autora.

Divulgação

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Mas o espiritismo não é novidade somente na teledramaturgia. Desde a primeira versão da novela “A Viagem”, exibida em 1975, produzida pela Rede Tupi e escrita por Ivani Ribeiro, essa temática atrai diversos espectadores. O remake da trama, que voltou a ser exibido em 1994 na TV Globo, fez tanto sucesso que já foi reprisado duas vezes no “Vale a Pena Ver de Novo”, da emissora carioca.
No folhetim, o mau-caráter Alexandre, interpretado pelo ator Guilherme Fontes continua atormentando sua família mesmo depois de morto. No último capítulo, a novela trouxe uma bela mensagem: “A vida continua… E a morte é uma viagem…”. Impossível não refletir sobre o tema.
A atriz Giulia Gam, que ganhou alguns prêmios por conta da excelente atuação em “Dona Flor e seus Dois Maridos” (onde um de seus maridos “retorna após a morte), exibida na TV Globo em 1997, também entrou na discussão e opiniou sobre o assunto: “A vida anda tão corrida e atribulada que as pessoas querem mais é se espiritualizar, se conectar com o seu eu, se voltar para dentro. Com isso, novelas, minisséries ou filmes, seja lá o que for, que abordem dignamente esse assunto tendem a ter realmente um público fiel. Me diz aí quem não tem nem um pouquinho de curiosidade que seja para saber o que acontece conosco depois que falecemos? O brasileiro então tem muita crença, é um povo muito religioso e também curioso quando esse tema vem à tona”, constatou.
“A Cura”, minissérie de João Emanuel Carneiro, também está no ar atualmente na Globo e é outro exemplo de obra com temática espírita. A trama fala da vida de um jovem médico da cidade de Diamantina, no interior de Minas Gerais, que fora acusado de matar um colega. O conflito todo começa quando ele descobre que tem a capacidade de curar as pessoas por meio de cirurgias espirituais. O personagem, interpretado por Selton Mello, vive a dúvida de manter ou não essa atividade, fora a angústia que ele tem ao saber que a entidade que incorpora é a de um médico que fora assassinado.

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O cinema, é claro, não poderia ficar de fora. Na esteira do centenário do médium Chico Xavier, morto em 2002, diversas produções foram lançadas. Não poderiam deixar de chegar às telonas a cinebiografia de Chico, assim como a adaptação do best-seller psicografado por Chico, intitulado “Nosso Lar”, que estreou no começo do mês de setembro, em todo o país.
A produção de Wagner de Assis mostra que a vida após a morte continua quase igual a da vida terrestre (física), pois a alma trabalha, se locomove, come, dorme, reencontra-se com seus entes queridos, evolui e convive com os seus semelhantes. Nesse sentido, “Nosso Lar” parece ser o filme mais emblemático dessa safra espírita, até mais que “Chico Xavier”, filme que foi dirigido por Daniel Filho e que se prende mais à trajetória do médium.

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Baseado no livro homônimo atribuído ao espírito André Luiz e lançado por Xavier, o filme já é uma das dez maiores bilheterias do ano e já levou ao cinema, até hoje, mais cerca de 2,5 milhões de espectadores. O faturamento chegou a R$ 19,1 milhões em apenas 14 dias de exibição. Para efeito de registro, “Chico Xavier” marcou 3,4 milhões de espectadores. O público dos dois filmes já representa quase 60% de toda a bilheteria de filmes brasileiros no ano de 2010, o que é algo surpreendente, sem dúvida.
E vem mais coisa por aí: com previsão para estrear em todo o Brasil entre dezembro deste ano e abril de 2011, o longa “As Mães de Chico Xavier” é uma iniciativa da produtora independente cearense Estação da Luz. A tarefa de dirigir caberá a três cineastas: Glauber Filho, Halder Gomes e Joel Pimentel, que mostrar

ão a história de três mães cujos filhos desencarnaram e, após isso, passaram a enviar cartas escritas por intermédio de Xavier. Todas as histórias são verídicas.
O ator Nelson Xavier, de 67 anos, que tem uma notável semelhança com Chico, a começar pelo sobrenome, interpretou o médium na produção de Daniel Filho e era ateu até fazer esse personagem. Para “As Mães de Chico”, Nelson aparecerá novamente na pele do médium, e com o maior orgulho.

Fonte: MSN