José Padilha antecipa informações sobre o longa mais esperado do ano
Enquanto o trailer conquista o público na internet, o diretor José Padilha está em Los Angeles com o diretor de fotografia Lula Carvalho capitaneando a pós-produção do filme mais esperado do ano: “Tropa de Elite 2”, uma coprodução Zazen Produções e Globo Filmes. O longa foi montado dentro de um apartamento na Zona Sul do Rio de Janeiro para evitar a pirataria. Agora está passando por processos como mixagem, correção de cor e outros. Diretamente dos Estados Unidos, Padilha fala à Página do Cinema sobre o longa que estreia no dia 8 de outubro em nada menos que 600 salas, um recorde do cinema nacional pós-Retomada.
Por que voltar a “Tropa de Elite”?
Fiz três filmes sobre a violência urbana no Rio de Janeiro. O primeiro foi “Ônibus 174”, que propõe uma análise de como surge a violência pelo ponto de vista do criminoso. Ao ver “Ônibus 174”, você percebe que o Estado administra mal todas as organizações que entram em contato com os pequenos criminosos e meninos de rua. Desde a polícia, que é violenta (no filme vemos o caso da Candelária), o sistema prisional (com cadeias lotadas, condições abjetas), até o sistema que deveria reeducar o pequeno criminoso, que maltrata as crianças. O segundo filme que fiz foi “Tropa de Elite”. E a mesma coisa se repete. O Estado trata muito mal a instituição policial e estimula a polícia a ter uma cultura informal que promove a corrupção e a violência. Fiz “Tropa 2” porque achei que precisava dizer o porquê de o Estado agir assim.
O que mudou do primeiro para o segundo filme? O que o público vai rever, o que vai encontrar de novidade e o que ficou de fora?
O primeiro filme se passa no nível da polícia, seus principais personagens são policiais. O “Tropa 2” foca o nível de cima, a interação da polícia com a política, com os agentes decisórios da segurança pública. Outra diferença é que o arco da dramaturgia do primeiro “Tropa de Elite” é do personagem André Mathias. No “Tropa de Elite 2”, o arco principal é de Nascimento, é ele quem se transforma ao longo da trama.
“O inimigo é outro” é uma frase que está virando lema do filme. Que outro inimigo seria esse?
“Tropa de Elite 2” se passa na interface da segurança pública com a política, lida com as conexões que existem entre a política e a polícia. Nem todas estas conexões são formais. As conexões formais são: o político é eleito, indica o Secretário de Segurança, que monta a secretaria e administra as polícias. Mas existem conexões informais entre o político, a polícia e a população, que passam à margem dos interesses públicos, e que criam grande parte dos problemas da segurança pública no Brasil. São essas conexões que exploramos no filme. O inimigo, do ponto de vista do Nascimento, agora é outro. Ele não está mais na favela.
Outra frase forte do filme é: “A guerra é a cura. É uma válvula de escape”. “Tropa de Elite 2” tem muita ação. Como buscar o debate e a conscientização com um filme de ação?
Não acho que “Tropa de Elite” seja um filme de ação. É uma crônica social com ação dentro dela. “Tropa de Elite” tem ação, mas tem também uma construção analítica, que tenta dissecar de maneira crítica as relações entre certos grupos sociais. Por isso é um filme que não é facilmente classificável. De minha parte, não sinto necessidade de classificar os filmes em gêneros. E acho que já ficou provado, pelo menos no Brasil, que filmes com ação podem gerar debates e conscientização. Foi assim com “Cidade de Deus” e com “Tropa de Elite”. Os dois filmes deram origem a inúmeras teses de pós-graduação, no Brasil e no exterior.
“Tropa de Elite” foi o filme mais visto da década. Mas, por conta da pirataria, o público registrado nas salas de cinema não refletiu a realidade do seu alcance. “Tropa de Elite 2” vai reverter esta marca?
Não sei, não tenho a menor ideia. Espero apenas que a parte da pirataria não aconteça de novo!
Fonte: G1